sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O que você quer ser quando crescer?

Adultos adoram fazer perguntas estúpidas para crianças para seu próprio entretenimento! Uma dessas perguntas é a famosa “o que queres ser quando cresceres?” Nós sabemos que a resposta será algo improvável como astronauta ou estrela de cinema, ou até mesmo engraçado como “jardineiro” ou “carteiro”, e então usamos nossos adoráveis pequenos, nos aproveitando de sua inocência e limitações, para darmos algumas risadas.

Crianças nos dão estas respostas engraçadinhas e improváveis porque não compreendem ideologicamente o sentido de futuro. O que você quer ser quando crescer é uma ideia tão abstracta para uma criança como a origem do universo ou a natureza do tempo e espaço é para nós adultos. Podemos ter nossas ideias particulares sobre estes assuntos, mas elas não passam de especulação.

Em algum ponto entre nossa infância e nossa "adultidade", começamos a perceber que precisamos de um posicionamento pessoal sobre o futuro para não sermos considerados “esquisitos” ou “inadequados”. Começamos então a desenhar o futuro que desejamos, moldando-o de acordo com as expectativas externas sobre nós. Esquecemos então que queríamos ser astronautas e começamos a dizer que queremos ser médicos, advogados, engenheiros ou arquitectos. Qualquer indecisão nesta área gera ansiedade e um senso de inadequação. Se não soubermos o que queremos ser, corremos o risco de não sermos nada, e aí, como ficamos? Adolescentes entre 15 e 18 anos relatam que dentre as diversas causas de sua inquietação, revolta e ansiedade, uma das maiores é a insegurança quanto ao futuro. E se eu escolher o curso superior errado? E se eu decidir não fazer curso superior? E se eu casar com a pessoa errada? E se eu for um fracasso na vida? E se eu ...

Nos apegamos então aos nossos planos para o futuro como uma forma de reduzir a ansiedade e a inquietação, o senso de que não sabemos realmente o que o amanhã nos reserva. Quando temos planos, sentimos que de certa forma estamos no controle.

Este controle no entanto, é uma ilusão. Nós podemos ter sonhos, metas, planos e conseguir concretizá-los, mas se a razão por trás destes objectivos for uma necessidade de controle, não conseguiremos encontrar satisfação ao cruzar a linha de chegada. Por quê? Porque o motivo jamais foi vencer, mas sim controlar. Ao chegar onde queríamos, a sensação de insegurança e perda de controle começa a surgir novamente e novos planos devem ser feitos.

Na nossa "adultidade" continuamos como crianças querendo ser "astronautas" ou talvez mesmo "jardineiros" e mesmo sendo algo que parece fácil de concretizar existe uma enorme prisão dentro de nós que nos bloqueia inventando dificuldades criando preconceitos e um bilião de motivos pelo qual nos sentimos bloqueados para alcançar nosso sonho, mas continuamos afirmando "talvez um dia eu consiga" será mesmo que sim?

A criança diz que quer ser astronauta “quando crescer”, mas na verdade ela quer ser astronauta “agora”. Dentre todas as previsões que podemos fazer na vida, aquela que corremos o maior risco de errarmos é a de como seremos no futuro, em termos de vontades, preferências e necessidades. Nós somos como crianças quando falamos sobre nossos desejos para o futuro, o que nós dizemos que queremos para o futuro é o que queremos, na verdade, agora. Nós fazemos suposições sobre como estaremos amanhã e o quais serão nossas preferências, mas estas opiniões são apenas especulações vazias. Não raro, nós maldizemos a nós mesmos no passado pelas escolhas que fizemos porque não compreendemos como poderíamos ser daquela forma e ter feito tais escolhas. A pessoa que somos hoje é um estranho para a pessoa que fomos no passado e também para a pessoa que seremos no futuro, e se a sim não for, passado presente e futuro não serão diferentes.

Se não podemos prever se no futuro vamos gostar de ter realizado os objectivos que planeamos no presente, o que devemos fazer então? Devemos simplesmente não planear e viver à deriva?

Ou será que não queremos todos no futuro estar bem fisicamente, estar financeiramente estáveis e tranquilos, ter um ou outro bem material e ter a nossa família bem, de bem connosco, e felizes. Será isto diferente no nosso "nós" futuro? Não deveria ser por isto que lutamos, independentemente do caminho que optamos percorrer?

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O que você faria se não houvesse amanhã?

O que você faria se descobrisse que este é o seu último dia de vida? Alguns respondem que passariam o dia com seus entes queridos, outros que diriam a todos tudo aquilo que ficou engasgado na garganta durante uma vida inteira. Algumas pessoas dizem que fariam algo que sempre quiseram fazer, mas nunca tiveram coragem. De qualquer forma, o que você faria em seu último dia de vida é provavelmente algo que você não está fazendo agora.

Quando pensamos na finitude de nossa existência, nos lembramos das coisas que são realmente importantes para nós. Hoje poderia realmente ser o último dia de vida para qualquer um de nós. Por que não priorizamos então o que é de facto importante, ao invés de deixar “tudo para o último dia”? Por que nos sujeitamos a uma vida sem sal, sem graça, nos alimentando na esperança de que o futuro será melhor?

Diversos factores sociais e psicológicos contribuem para esta condição. Apesar de “filosoficamente romântico”, viver a vida adoidado como se não houvesse amanhã não é muito prático. Além disso, nós sabemos que a probabilidade de que haja um amanhã é infinitamente maior do que a probabilidade de que realmente hoje seja o nosso último dia na Terra, e aí, quem se responsabilizará pelas consequências de nossas acções espontâneas?

Um outro factor são os famosos ganhos secundários. Não dizemos tudo o que queremos para aquela pessoa insuportável no escritório porque temos certos ganhos com isso, seja simpatia, um favorzinho aqui e ali ou a economia de um bate-boca que talvez não estivéssemos dispostos a começar.

A preguiça e a procrastinação têm sua raiz na esperança. Se acreditamos que teremos tempo no futuro para lidarmos com o que não queremos lidar agora, nós simplesmente deixamos para depois. A esperança mantém acesa uma expectativa de que tudo será melhor no futuro.

Não somos muito bons em percebermos a passagem do tempo. Sempre achamos que o futuro será melhor e esta expectativa se torna permanente. O futuro “melhor” nunca chega enquanto o presente for igual ao passado, mas não percebemos, continuamos a esperar por ele, enquanto isso vamos fazendo coisas sem importância, passando o tempo, aguardando pela oportunidade, aguardando pela altura de fazer algo mais significativo com nossas vidas, até o dia em que realmente… não há mais amanhã!

O que nós dizemos que queremos para o futuro é o que queremos, na verdade, agora.

Porque esperar pelo amanha?